Contos traduzidos:

Os noivos
Revista Inostrannaya Literatura, ed. 169, 2019. Moscou, Rússia. Tradução de Ekaterina Khovanovitch.

Penelope
Tradução italiana de Maria Baiocchi.

La prima notte di libertà
Tradução italiana de Maria Baiocchi.


  JORNAL LEIA LIVROS - Nº 29
São Paulo, OUT/NOV/1980


O INSÓLITO TEZZA


MILTON JOSÉ DE ALMEIDA

A cidade inventada, de Cristovão Tezza. CooEditora, 136 pp.

A vocação para a produção de contos parece ser generalizada entre escritores brasileiros. Desde a obra de Machado até os contemporâneos, os contistas têm oferecido material em quantidade para as infindáveis digressões acadêmicas sobre a especificidade do conto.

Utilizando-se de situações insólitas, de súbitos aparecimentos de personagens e muitas vezes, seus inexplicáveis desaparecimentos, por locais nem sempre localizados e sem ligar muito ao tempo, o autor cria narrações que estão sempre a um passo do impossível, do fantástico. Dessa maneira, quer ele oferecer uma visão de vidas em degradação constante, incomunicáveis e desorientadas. Como conseqüência (e o título informa), a civilização como está não serve mais, é necessário reinventá-la. Se lermos os contos até este nível, ficaremos contentes, pois eles nos convencem; seus conteúdos são plenos de casos humanos que, por serem "quase" estranhos, nos revelam suas realidades. E tudo elaborado numa linguagem muito correta, boa de se ler, fácil, com descrições enxutas e desenvolvimentos ágeis. Se formos mais adiante, mais a fundo, tentando buscar na obra o seu tempo histórico, notaremos que ele nos mostra um universo tipo "fim-dos-tempos", um mundo desencantado, fechado nos individualismos, que reproduz fielmente a perspectiva estreita dos seres encerrados nos cárceres urbanos. Nesse caso, a obra não acrescenta nada ao leitor, a não ser a sua própria identificação, e a saída para o nada. Ele passa a representar um produto desse pensamento superficial do indivíduo alienado na nova cidade desumana. O ator oferece ao leitor um espelho de boa qualidade, de reflexos inusitados, mas somente uma fuga para dentro de si. Tal visão é fruto de uma ótica individualista que, por perder a visão do todo, enxerga a sociedade como uma soma de indivíduos, cujos relacionamentos são fortuitos e ocorre por encontros casuais guiados pelo acaso.

Dessa maneira, em A Cidade Inventada, temos um rodar de temas ligados a mulheres, prostitutas que levam homens desprovidos de vontade, ao casamento transgredido, às lembranças da infância, aos conflitos individuais, ao desentendimento entre amantes, e até ao problema da literatura e seu conceito. Os contos de Tezza dão a impressão de ensaios para projetos mais profundos, como um músico que toca aquelas peças de praxe, que apesar de simples, mostram a qualidade do instrumentista. Esperamos que ele chegue a nos dar um concerto.


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