Um romancista assombrado pelos mesmos fantasmas
Semana Literária, SESC-PR
Curitiba, de 10 a 15 de setembro de 2012


Por Mariana Sanchez

Desde o lançamento de O filho eterno, vencedor de todos os prêmios do país em 2008, Cristovão Tezza se tornou uma das figuras mais expressivas das letras nacionais. Nascido em Lages, Santa Catarina, mas radicado em Curitiba desde a infância, Tezza publicou mais de uma dezena de livros, a maioria romances, entre eles Trapo,Juliano Pavollini, O fotógrafo e Um erro emocional.

Há alguns meses, o ex-professor da UFPR lançou O espírito da prosa, volume de ensaios que ele define como sua “psicanálise literária”, em cujos textos analisa sua formação e investiga por que é o escritor que é hoje.

No dia 11 de setembro, o autor participará, ao lado do escritor carioca Alberto Mussa, da mesa-redonda intitulada O Brasil Literário, que pretende discutir aspectos como identidade, temas e formas da produção literária nacional. Confira a seguir a entrevista que o autor concedeu com exclusividade à 31ª Semana Literária do Sesc PR.

A literatura brasileira tem tido cada vez maior projeção no exterior. Em 2013, o Brasil será homenageado na Feira de Frankfurt – principal evento literário do mundo –  e este ano a revista inglesa Granta publicou uma seleção dos 20 “Melhores Jovens Escritores Brasileiros”, da qual você foi um dos jurados. Afinal, o que a nova literatura brasileira tem a dizer sobre o Brasil e seu povo?

O Brasil mudou profundamente nos últimos 20 anos, e é claro que isso acaba por se refletir na sua literatura. Eu diria que há dois aspectos a lembrar. Primeiro, o intenso processo de urbanização que aconteceu no Brasil, que mudou o caráter agrário e rural, que sempre foi forte na representação do país. Foi uma urbanização intensa e violenta, muito rápida, e que cria feridas sociais muito fortes. O segundo aspecto é que o advento da internet, somado ao plano real que estabilizou a economia brasileira, alavancou de certa forma a produção literária brasileira, agora nas mãos de uma nova geração que não guarda mais a memória e o ideário dos anos 60 e 70. De certa forma, entramos num outro mundo cultural. É uma literatura que ainda está se fazendo e criando suas novas referências.

O Espírito da Prosa, seu lançamento mais recente, é uma espécie de
autobiografia literária. Levando em conta sua trajetória como escritor e como leitor, que momentos marcantes você destacaria? E como avalia sua fase atual?

Eu fui basicamente um escritor criado no caldo de cultura dos anos 60 e 70. Vivi intensamente aquele ideário existencial que foi muito marcante e deixou rastros até hoje. “O espírito da prosa” é uma espécie de “psicanálise literária” que eu faço de minha própria formação, tentando descobrir por que sou o escritor que sou hoje. Se fosse para esquematizar, eu diria que, num primeiro momento, fui um bicho-grilo da contracultura; num segundo momento, fui um acadêmico conservador que tentava sobreviver para escrever; e hoje enfim volto ao meu velho projeto de viver só da literatura. Eu diria que encerrei uma fase da minha vida e estou abrindo outra. (Mas eu sempre digo isso quando termino um livro e penso em começar outro…)

Você se dedicou tanto ao romance quanto aos contos. Atualmente, as editoras brasileiras costumam afirmar que “conto não vende”, preferindo publicar obras em prosa de maior fôlego. Qual sua opinião sobre este assunto?

Na verdade, sou apenas um romancista que, num momento, escreveu e publicou alguns contos. Mas contos de romancista, por assim dizer: todos têm a mesma personagem “Beatriz”… A questão romance x contos é puramente comercial. Não são os editores que têm preconceito contra o conto (Dalton Trevisan e Rubem Fonseca não param de publicar…). São os leitores, que preferem os romances aos contos. É um dado estatístico.

Em termos de linguagem, temática literária e posicionamento como indivíduo, o que mudou em relação à geração atual de escritores e aquela, da qual você faz parte?

Minha temática literária prossegue mais ou menos a mesma, desde o primeiro livro. Sou sempre assombrado pelos mesmos fantasmas, digamos assim. Como linguagem, fui passando por transformações; o autor de “Uma noite em Curitiba” não é mesmo de “O fotógrafo”, escrito dez anos depois. Assim como “O filho eterno” foi outro salto. Cada romance que escrevi me colocou algum novo problema a resolver, na linguagem e na visão de mundo. Sobre gerações de escritores, nunca me senti parte de grupo nenhum, de fato, nem nos anos 70, nem hoje. Uma certa inadequação essencial sempre me perseguiu. Mas acho que isso é a alma que move a literatura.

Durante a Semana Literária do Sesc PR, você participará da mesa
intitulada O Brasil Literário. O que você apontaria de mais interessante na cena literária atual do nosso país?

Uma geração nova, bastante produtiva, que está começando a desenhar um novo panorama literário no país.




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