O ESTADO DE S. PAULO
São Paulo, 9 de outubro de 1995


Noite curitibana inspira novo romance de
Cristovão Tezza


Décimo livro do escritor, concluído em Nova York, conta a história de um velho professor que se apaixona perdidamente por uma atriz de teatro e cinema

ANDRÉ PINTO PACHECO
Especial para o Estado

Depois de "descansar" por cerca de um ano, chega as livrarias o décimo romance do escritor Cristovão Tezza. Boa parte de Uma Noite em Curitiba foi escrito durante os dois meses em que o autor foi escritor-residente pela Ledig House Foundation, num casarão nos arredores de Nova York, no final do inverno e começo da primavera de 1994.

Acompanhado por um romancista eslovaco, uma americana e um tradutor' alemão, rodeado de neve, Cristovão Tezza arrematou a história, que já contava com 50 páginas escritas, de um velho professor que se apaixona perdidamente por uma atriz de teatro e cinema. Como sempre faz, Tezza concebe o romance, escreve-o num só período e submete o texto a um período de "descanso". Depois o reescreve, retirando os excessos. No caso de Uma Noite em Curitiba, foi retirado todo um primeiro capítulo. Conselho dado por seu amigo, o escritor alemão: "Os escritores deveriam arrancar as 15 primeiras páginas de seus livros, depois disso é que a narrativa começa."

É por esse apuro formal aliado ao prazer de narrar a vida de seus personagens que Cristovão Tezza vem merecendo elogios dos críticos, livro após livro, a partir de Trapo, editado pela Brasiliense em 1988, que está em quarta edição e o projetou fora de Curitiba e até mesmo lá. Antes, já havia escrito Gran Circo das Américas (1978), A Cidade Inventada (1980), O Terrorista Lírico (1981) e Ensaio da Paixão (1986), premiado no Concurso Nacional de Romance. Depois vieram Aventuras Provisórias (1989), que obteve o segundo lugar no Concurso Petrobrás de Literatura Brasileira; Juliano Pavolini (1990); A Suavidade do Vento (1991), escrito com financiamento da Fundação Vitae; e O Fantasma da Infância (1994).

O gênero de Tezza é o romance. "Preciso de 150 páginas para poder contar uma história." Seu único livro de contos é A Cidade Inventada, com textos escritos durante dois ou três anos e reescritos inúmeras vezes. Segundo o autor, reescrever é um aprendizado, iniciado quando resolveu disciplinar essa vontade de ser escritor, depois de queimar os originais de seus primeiros romances ("verdadeiros calhamaços e muito ruins"). Outro livro que serviu como aprendizado para o oficio foi Gran Circo das Américas, resposta a um desafio de Wilson Rio Apa, feito basicamente de diálogos.
Seus livros são muito marcados pela experiência. Talvez venha daí essa necessidade de escrever romances e também a força de seus personagens, gente comum.

Cristovão Tezza é professor universitário desde 1986, mas antes disso fez outras coisas. Integrou a comunidade de teatro de Wilson Rio Apa, em Antonina (PR); teve o sonho romântico de ter um ofício e abriu uma relojoaria.
Às vésperas de se casar, fechou a loja e foi para o Acre trabalhar com o irmão num escritório de advocacia e dar aulas em cursinho. Entrou no curso de letras da Universidade do Acre e, depois de um ano, conseguiu uma transferência para o Paraná. Entre o Paraná e o Acre esteve um ano na Europa. E seus livros têm muito dessa "substância rebelde dos anos 70".

Cidade - Outro elemento presente em seus livros é sua cidade: Curitiba. A geografia de seus livros é a de Curitiba; alguns personagens dos romances também são personagens da cidade; a timidez e a solidão de muitos protagonistas são marcas do curitibano. Essa é a Curitiba de Tezza, dos anônimos moradores de prédios. Diferente, portanto, daquela de seu vizinho de bairro, Dalton Trevisan (ambos moram no Alto da Glória). Para Tezza, a Curitiba de Trevisan ("referência para qualquer um na literatura brasileira"), ainda é a de casas com galinhas no quintal. O romance de Cristovão Tezza, segundo ele mesmo, pertence a um filão da narrativa urbana, com uma produção emergente e significativa por todo o País.

Depois de três romances publicados pela editora Record, Uma Noite em Curitiba está sendo lançado pela Rocco, que planeja para breve mais uma edição de Trapo e, mais tarde, o relançamento dos outros romances do autor.


voltar