Um dos maiores talentos da literatura contemporânea brasileira, Cristovão Tezza recebe mais uma obra revista sob o selo da Editora Rocco

A SUAVIDADE DO VENTO

Josilei Maria Matôzo é um tímido professor de português, radicado em uma pequena cidade do interior paranaense. Quase sem amigos, se sentindo sempre deslocado e confuso com a presença de outras pessoas, praticamente só encontra prazer no jogo e na bebida. Ao longo de cinco anos, para fugir de sua angustiante e solitária realidade, ele escreve um livro: "A suavidade do vento".

Agora, com o livro pronto, Matôzo se vê obrigado a enfrentar diversas dificuldades, tanto materiais quanto existenciais. Depois de conseguir a publicação de sua obra por uma suspeitíssima editora desconhecida, assinando-a como J. Mattoso, ele se descobre cercado de ciúme e incompreensão por parte dos moradores de sua cidadezinha. Isso porque concedera uma equivocada entrevista a uma influente publicação regional, a revista "Sul". Envergonhado de si mesmo e de sua vizinhança, Matôzo mentiu dizendo que o J. no seu nome era de Jordan, e que se mudaria no final do ano para São Paulo ou Curitiba.

Como conseqüência da publicação da entrevista, Matôzo passa a ser malvisto na cidade. O diretor da escola onde ele trabalha ameaça demiti-lo, seus amigos começam a evitá-lo, e a notícia de que se mudaria passa a correr pelo vilarejo. Matôzo torna-se prisioneiro de sua própria mentira e decide ir para Curitiba. O plano: ficar lá um mês e procurar um emprego, aproveitando as férias escolares.
Em Curitiba, Matôzo consegue que a revista "Sul" publique uma carta de esclarecimento sua, na qual nega ser Jordan Mattoso e afirma jamais ter escrito livro algum. Depois disso, empacota os dez exemplares que possui de "A suavidade do vento" e envia-os à editora junto com um bilhete, dizendo que haviam sido mandados para a pessoa errada, pois ele era Matôzo e não Mattoso.

Ao voltar para sua cidade, livre do peso de seu livro, o professor se sente uma nova pessoa. Começa fazendo uma limpeza geral em casa, destruindo velhos objetos e queimando os originais de "A suavidade do vento". Quando sai à rua, se vê cercado de admiração e amizade por seus vizinhos, colegas e amigos. Uma nova vida começa para Josilei Matôzo.

Cristovão Tezza, um dos maiores talentos da literatura contemporânea brasileira, autor de Trapo, Breve espaço entre cor e sombra, Juliano Pavollini, entre outros livros, cria neste romance personagens complexos, com pensamentos e sentimentos vivos, que praticamente saltam do papel para ganhar vida na imaginação do leitor. A realidade tragicômica de Matôzo, limitada e angustiante, é um espelho de seus próprios medos. Mesmo ansiando a revelação de um novo Matôzo (o Mattoso), ele só consegue libertar-se de si mesmo quando, por meio de seu livro, extravasa suas idéias sem censura nem timidez. E quando isso acontece ele descobre um terceiro Matôzo, diferente do primeiro, pois liberto da timidez e dos medos, e diferente do Mattoso, pois este não passa de uma idealização boba e inconsistente. Justamente por isso, "A suavidade do vento" afirma sobretudo o poder transformador da literatura, tanto para o autor quanto para a sociedade que o cerca.



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