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A Tarde - Suplemento Cultural
Salvador, 12 de janeiro de 2008
Drama familiar que poderia
ser de qualquer um
Ruy Espinheira Filho *
Experiência de ter um filho
com síndrome de Down é tema de livro
Catarinense de Lajes (1952), há muitos anos morando em Curitiba, Cristóvão Tezza é um dos mais importantes ficcionistas brasileiros, detentor de prêmios imporrtantes como o Machado deAssis e o Prêmio de Romance da Academia Brasileira de Letras, entre outros. Retomando à Record, depois de anos sendo publicado por outra editora, ele tem toda a sua obra reditada e lança um novo romance: O filho eterno.
Mesmo quem já está acostumado ao estilo severo e poderoso de Tezza, que se manifesta já em seu primeiro livro (Trapo), sentirá um impacto maior com este novo texto. Porque, se os outros "eram também densos de vida, O filho eterno fala de uma experiência de vida especialmente dramática: ter um filho com síndrome de Down.
Experiência dramática de vida, experiência dramática de esscrever. Embora mergulhado em sua memória, o autor não se limita a enfileirar recordações: escreve um romance. E aqui fica particularmente em evidência o grande poder da literatura: aposssar-se da vida, transformá-la em arte e, com isto, servir à própria vida. É, sim, em essência, a história de Cristovão e Felipe. Como é a história de todo pai com um filho com síndrome de Down. Como é, enfim, a história de toodos nós que nas pomos no lugar deles e vivemos o inesperado e todos os sofrimentos, lições, muudanças e aperfeiçoamentos dele decorrentes.
O autor conta a história do filho, mas sobretudo conta a hisstória do pai. Porque, se o filho, com seu nascimento, deflagra a história, sua participação é inocente em todo o drama. Ele se limita ao seu pequeno mundo. Suas reduzidas possibilidades de compreensão o mantêm a salvo, digamos assim, da ocorrência que desestabiliza outras vidas. O problema não é seu, é dos outros. Principalmente de pai e mãe. No romance, sobretudo do pai. O qual, vencido um horror de tragédia, uma dor de fatalidade draamática, aos poucos vai-se transsformando, aperfeiçoando-se, educando-se para educar o filho, o que significa caminhar com ele até o máximo limite que possa atingir. E, nesse caminhar, vai-se construindo um amor diferente, especialmente delicado, por ser esse que chegou um prejudicado pela natureza, mas que é humaano, uma pessoa. E, assim, também sofre. E sente alegria. E sonha.E ama.
Escrevi que o pai se educa paara educar o filho. Desta forma, o que vemos também é que o filho educa o pai. Um influencia o ouutro. Ambos se educam, burilam-se mutuamente. O filho se vai superando, o mesmo acontecendo ao pai - que vence a autoopiedade, a revolta, experimenta e supera os preconceitos que nasscem em toda parte e nele próprio. E, no final (que não é um final), estão ambos unidos no amor. Grandes companheiros. Leiam o último trecho: "Bandeira rubro-negra devidamente desfraldada na janela, guerreiros de brincadeira, vão enfim para a frente da televisão - o jogo começa mais uma vez. Nenhum dos dois têm a mínima idéia de como vai acabar, e isso é muito bom."
Foram muitos anos. Não se sabe como a viagem vai acabar, mas não importa. O que importa é que, passado o que se passou, possa-se dizer que "isso é muito bom". Uma grande aventura, vivida por pessoas que deram o melhor de si mesmas e narrada de maneira bela e digna por um escritor exemplar.
RUY ESPINHEIRA FILHO é jornalista, poeta e membro da ALB.
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Francamente autobiográfico, O filho eterno, lançado no ano passado, aborda o relacionamento de um escritor com seu filho, portador da síndrome de Down, e marca o retorno de Cristovão Tezza à Record. Três de seus principais romances também estão de volta às livrarias, lançados pela editora com nova roupagem gráfica.
Trapo, publicado originalmente em 1988, foi o livro responsável por tornar o autor catarinense conhecido nacionalmente. O livro acompanha a trajetória de um jovem poeta, viciado em drogas, que se suicida deixando um livro iniciado. Os originais são entregues pela dona da pensão a um professor, que, ao organizar o material, acaba se envolvendo com pessoas ligadas ao autor.
Aventuras provisórias, de 1989, trata do inesperado reencontro de um executivo com amigo de infância, saído dos porões da tortura do regime militar. Isto o induz a percorrer difícil e tortuoso caminho em busca da auto-realização.
O fantasma da infância, lançado em 1994, tem como cenário as cidades de Florianópolis e Curitiba, onde duas histórias aparentemente desconexas se entrelaçam. O protagonista de ambas é o jornalista decadente André Devine.
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